sábado, 27 de setembro de 2014

A análise dos pigmentos da semente de urucum – Parte III

          Quase todo resultado de uma análise química trás embutido uma incerteza. Essa incerteza deve ser expressa no laudo analítico e geralmente vem logo depois do resultado da análise e é apresentado entre parênteses ( ) ou antecedido de uma notação de “mais ou menos” (±). Por exemplo: uma análise de bixina em sementes de urucum cujo resultado foi 4,0 gramas de bixina por 100 gramas de semente (ou 4%) e cuja incerteza foi de 0,2 g/100 g (ou 5% do valor encontrado) deveria ser expressa das seguintes formas: Bixina = 4,0 g/100 g (0,2 g/100 g) ou 4 g/100 g ± 0,2 g/100 g. Mas o que isso significa?

          No processo analítico, ou seja, durante a realização da análise, várias etapas são necessárias. Por exemplo: na determinação da concentração de pigmentos em uma amostra de sementes de urucum é necessário de pesar certa quantidade de sementes, adicionar um determinado volume de solvente para extrair os pigmentos, separar as sementes do extrato, realizar quantas diluições forem necessárias para a leitura da cor e finalmente “ler” a cor no espectrofotômetro. Cada uma dessas etapas pode conter pequenos “erros” que juntos representam um valor a ser considerado no resultado final da análise. Por isso cada resultado de um laudo é uma média de algumas repetições analíticas da mesma amostra.

          Geralmente as repetições analíticas apresentam resultados um pouco diferentes. Vamos voltar ao nosso exemplo de análise de bixina em sementes de urucum. Vamos também supor que o resultado da análise de nossa amostra de sementes de urucum foi obtido por meio de três repetições analíticas (ou seja, o procedimento analítico foi integralmente repetido três vezes para a mesma amostra). Essas três análises deram como resultados os seguintes valores de bixina por 100 g de sementes: primeira análise = 3,8 g, segunda análise = 4,0 g e terceira análise = 4,2 g. Se calcularmos a média dos três resultados teremos uma concentração média igual a 4,0 g/100 g de semente. Mas só esse valor não nos informa que houve uma variação nas análises e que as sementes analisadas podem ter desde 3,8 g /100 g até 4,2 g/100 g. Por isso existe a necessidade de também expressar a incerteza do resultado, ou seja, nossa amostra tem 4,0 g de bixina por 100 g de semente com uma incerteza de 0,2 g/100 g.

          Em alguns casos essa incerteza é chamada de desvio padrão ou estimativa de desvio padrão. O desvio padrão é uma forma estatística de expressar a incerteza.

          Com essa postagem nós terminamos a série “A análise dos pigmentos da semente de urucum” que tenta de forma bem simples facilitar a interpretação de um laudo de análise de pigmentos de sementes de urucum. Esperamos que seja útil, principalmente para os envolvidos no mercado de sementes de urucum, tanto o produtor como o comprador dessas sementes.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A análise dos pigmentos da semente de urucum – Parte II

          Dando continuidade às nossas postagens sobre a análise de sementes de urucum vamos tentar esclarecer um pouco o que esses métodos analíticos buscam avaliar e como isso é feito. Não tenho como evitar o uso de alguns termos técnicos, mas tentarei sempre que possível substituir ou esclarecer esses termos.

          Talvez uma das principais confusões nessa área seja referente ao pigmento que está sendo avaliado. Como já apresentamos na postagem anterior o principal pigmento das sementes de urucum é denominado “Bixina” (pronuncia-se bicsina). A Bixina é um pigmento com características especiais. Ela não é solúvel em água, mas é solúvel em alguns solventes como a acetona e o clorofórmio. Sua estrutura química permite também que ele reaja com soluções alcalinas dando origem a outro pigmento denominado como norbixina (na verdade se trata do sal da norbixina).  Essa reação é muito utilizada para a extração e para a análise dos pigmentos do urucum.

          Complicou? Pois são esses detalhes que confundem até quem trabalha nessa área. Mas vamos aos poucos tentando esclarecer tudo isso.

          A grande maioria dos laboratórios utiliza na análise de pigmentos de sementes de urucum a extração com reagente alcalino, portanto tem como resultado primário o sal da norbixina, e utiliza um fator para converter o resultado obtido em bixina. Esse é o procedimento utilizado no laboratório em que realizo minhas pesquisas.

          A metodologia utilizada para a análise de bixina em sementes de urucum é relativamente simples. Uma pequena amostra de sementes que pode variar de 10 a 25 gramas, dependendo do laboratório, é misturada com uma solução alcalina a quente. Em seguida o extrato é separado das sementes, diluído e a concentração dos pigmentos é medida em um aparelho denominado espectrofotômetro. Depois disso, com poucos cálculos obtemos a concentração de bixina nas sementes analisadas.

          Na próxima postagem vamos mostrar como interpretar os resultados da análise.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A análise dos pigmentos da semente de urucum – Parte I

          A safra começou e o momento é de comercialização das sementes. A maioria das empresas tem comprado as sementes considerando a concentração de “bixina”. Bixina é o nome dado ao principal pigmento das sementes de urucum e sua concentração é o melhor indicativo da qualidade da semente. Mas é na hora de avaliar os resultados das análises das sementes que começam a aparecer as dúvidas. Diferentes laboratórios têm apresentado resultados diferentes para o mesmo lote de sementes. Por que isso acontece? Qual valor é o correto? Como interpretar esses resultados? Vamos tentar em algumas postagens esclarecer um pouco esse assunto.

          O primeiro cuidado deve ser tomado com a amostra que está sendo enviada para análise. Esse cuidado deve ser observado tanto com a quantidade de sementes enviadas para o laboratório até com o tipo de embalagem e o transporte dessas sementes. Lembre-se que nem todas as plantas (sementes) apresentam a mesma concentração de bixina. Portanto, faça uma amostragem de várias partes do lote que você deseja avaliar para que a amostra seja representativa. Se for enviar para mais de um laboratório, utilize a mesma amostragem. Esse cuidado elimina uma das principais causas de divergência de resultados.

          Outro cuidado bastante importante é com a embalagem e o transporte dessas amostras. Lembre-se que os pigmentos ficam na superfície das sementes e além de serem sensíveis a luz eles podem ser removidos pelo atrito das sementes com o material da embalagem. Um bom tipo de embalagem é o vidro, que deve ser totalmente preenchido com as sementes de forma a minimizar o atrito entre elas e com o material da embalagem. Além disso, procure utilizar um vidro escuro ou cubra o vidro com papel alumínio ou qualquer outro tipo de material que iniba a incidência de luz diretamente nas sementes. Tome o cuidado de identificar corretamente cada amostra.

          Tomando todos esses cuidados com a amostragem podemos minimizar um dos principais problemas que ocasionam divergências de resultados entre diferentes laboratórios. Mas ainda temos outros fatores a considerar como: a metodologia analítica utilizada, a forma da expressão dos resultados, o erro inerente ao processo analítico, entre outros. Mas vamos deixar esses esclarecimentos para a próxima postagem.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Seja bem vindo

     Esse Blog foi criado para a divulgação e troca de informações sobre o urucum (Bixa orellana L). O urucum, o urucueiro ou urucuzeiro é definido nos dicionários como “arvoreta da família das bixáceas (Bixa orellana, L.), habitante da mata, cultivada extensamente, de folhas grandes e moles, cujos frutos são cobertos de longas pontas secas e cheios de sementes pequenas. O arilo, que envolve as sementes, fornece matéria corante vermelha especial, que era utilizada pelos índios para pintar o corpo e proteger a pele da radiação ultravioleta. Essa matéria é empregada na culinária como colorante e condimento"

     Atualmente sabemos que as sementes de urucum fornecem muito mais que pigmentos e sobre isso vamos discutir nesse blog. Seja bem-vindo, comente, pergunte, interaja com nossas postagens. Temos certeza que vamos surpreendê-lo com as mais recentes descobertas sobre o urucum.